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Estagnados no fundo do poço

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janeiro 7 , 2017 | Posted by admin | ,  | No Comments

Estagnados no fundo do poço

Escola em Hanoi (Foto: Nguyen Huy Kham/Reuters)

PROVA DE QUE NÃO HÁ DESCULPAS Escola em Hanói, capital do Vietnã. O país, que há 40 anos era agrário e analfabeto, está entre os primeiros colocados em ciências (Foto: Nguyen Huy Kham/Reuters)

O bom resultado no Pisa de Vietnã e Estônia, países mais pobres e vulneráveis que o Brasil, mostra que não há justificativa para estarmos na lanterna em Educação

Os novos resultados do Pisa, divulgados na terça-feira (6) pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mostraram que, mais uma vez, o Brasil saiu mal na foto. O país está literalmente estagnado e, o que é ainda mais grave, num patamar muito baixo em termos de aprendizagem escolar. Ficamos bem atrás da média global, estacionados na rabeira de um ranking que inclui 70 países. Em ciências, área que em 2015 recebeu a maior atenção da OCDE, estamos entre os dez piores colocados, na 63ª posição. Marcamos 401 pontos, enquanto a média dos países desenvolvidos e emergentes foi de 493 pontos. São mais de 90 pontos de diferença, o que equivale a aproximadamente três anos letivos. É uma situação grave e que piora ainda mais se, em vez de considerarmos a média global, compararmos o Brasil aos países que estão no topo da educação mundial.

Em leitura e em matemática, que são as outras duas áreas avaliadas pelo Pisa, o quadro também é desalentador: seguimos no grupo dos lanternas, com a 59ª e 66ª colocações, respectivamente. Somente 40% dos estudantes brasileiros atingiram pelo menos o nível 2 da escala, considerado o básico da proficiência. Esse é o patamar de conhecimento minimamente necessário para que o aluno tenha uma participação plena na vida social, econômica e cívica das sociedades modernas em um mundo globalizado. Entre os países da OCDE, esse percentual equivale ao dobro e chega a quase 80%. Todo esse cenário mostra o fundo do poço a que chegamos, algo que as próprias avaliações brasileiras já vinham, ano a ano, indicando.

É absolutamente frustrante ver que continuamos patinando a cada nova edição de avaliação. Nem sequer temos boas perspectivas para, num futuro próximo, dar o salto de qualidade de que o Brasil tanto necessita. O país não pode se acomodar a esta situação grave e já velha conhecida, ou continuaremos colocando em risco o futuro de nossos jovens. Não existe país sustentável, tanto do ponto de vista social, como econômico, sem ter jovens bem preparados, capazes de responder às novas demandas do século XXI, com uma formação alinhada com as necessidades dos novos tempos de mudanças exponenciais, que sejam criativos, empreendedores e conscientes de seus papéis como cidadãos e profissionais.

Não podemos, simplesmente, assistir ao Brasil se distanciar a cada ano de países que lideram a educação mundial, como Cingapura e Japão. Por que não nos espelhamos nos saltos tão significativos que Estônia e Vietnã alcançaram, apesar de suas histórias tão difíceis? O Vietnã, é importante lembrar, viveu quase toda a metade do século XX envolvido em conflitos e guerras. Isso fez com que o país fosse, até 40 anos atrás, uma nação pobre, agrária e analfabeta. Mas, no Pisa 2015, galgou à 8ª posição em ciências, à frente de países como Reino Unido e Coreia do Sul, porque elegeu a educação como projeto de nação. Também não precisamos ir tão longe para nos inspirar. Basta olharmos para nossos vizinhos latino-americanos, como a Colômbia, o México e o Uruguai, que alcançaram em 2015 resultados maiores que o do Brasil, mesmo apresentando um investimento médio por aluno menor que o nosso.

Enquanto a educação não for tratada como a prioridade máxima do Brasil em todas as instâncias, como projeto de governo, nação e sociedade, será difícil assistirmos a uma real mudança, na velocidade de que necessitamos. O fato de o Ministério da Educação (MEC) lançar mão de uma medida provisória para fazer a necessária reforma do ensino médio é o retrato de que esta mudança não teria a prioridade que deveria no Congresso Nacional, que há cinco anos discute um projeto de lei para essa etapa da educação básica – a chamada escola do jovem. E, enquanto isso, só vemos crescer o número de jovens de 15 a 17 anos que estão sem estudar e sem exercer nenhuma atividade remunerada – um exército de 1 milhão de jovens, que representa um a cada dez adolescentes nessa faixa etária.

O que fazer para sair dessa situação? A forma mais eficaz de mudar o curso assombroso que percorremos hoje é o investimento no professor. Basta ver o que ocorre nos países que lideram o ranking do Pisa. Em nações como Cingapura, Coreia do Sul, Finlândia, Canadá e Japão, ser professor é sinônimo de prestígio social. Aqui, no Brasil, deveríamos começar pela atratividade, tornando a carreira do magistério objeto do desejo de nossa juventude. Hoje, em nosso país, apenas 2% dos estudantes que saem do ensino médio escolhem esse caminho.

Não é só a questão dos baixos salários que explica a baixa atratividade, como muitos costumam pensar, pois a diferença inicial diante de outras profissões do mercado é apenas 11% menor. O problema acontece no percurso da profissão, quando essa diferença salta para 43%. Portanto, a criação de um plano de carreira atrelado à formação continuada do professor e a seu desempenho docente deveria ser a maior de nossas prioridades. Não me canso de repetir que sem bons professores não há futuro. Precisamos atrair os melhores alunos para a carreira do magistério e aprender a formar bem nossos professores para o chão de escola.

Outro ponto fundamental é que o país estabeleça os direitos de aprendizagem para seus alunos, ao menos para cada uma das etapas da educação básica. É preciso explicitar o que cada aluno deve saber ao final de cada ano letivo. A Base Nacional Comum Curricular, cuja terceira versão ainda deverá ser encaminhada pelo MEC ao Conselho Nacional de Educação, é uma esperança nesse sentido. O cuidado que devemos ter com a Base é assegurar que ela traga como direito de aprendizagem as demandas que os alunos têm no século XXI, que valorize o desenvolvimento das habilidades socioemocionais e de colaboração tanto quanto o conhecimento teórico. Está nas mãos de nossos governantes não deixar que questões políticas e partidárias se coloquem à frente dos interesses da nação. O Brasil precisa dar o que é de direito a suas crianças e jovens, segundo sua própria Constituição: uma educação de qualidade e com equidade.

Fonte: Época

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