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“A educação é o que me dá esperança”

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jun

15

“A educação é o que me dá esperança”

‘Nós precisamos aprender com a jovem Batoul’

Por Pierre Krähenbühl, comissário-geral da UNRWA

Em artigo, o comissário-geral da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), Pierre Krähenbühl, conta a história de Batoul, uma refugiada da palestina de 14 anos que presenciou conflitos e guerras durante boa parte de sua vida.

Dos campos de batalha do Oriente Médio chegam histórias exemplares de coragem e superação que todos nós devemos escutar e aprender.

Batoul, uma refugiada da palestina de 14 anos, presenciou conflitos e guerras durante boa parte de sua vida. Durante sua fuga da Síria, seu pai e seu irmão foram mortos. Quando eu a conheci no campo de refugiados Ein Elp Helweh, no Líbano, fiquei sem palavras. Apesar do trauma, ela era a melhor aluna de sua escola. Em meio à tragédia, ela preservou sua dignidade e conseguiu tirar forças da sua dor: “A educação é o que me dá esperança”, diz.

Batoul exemplifica o quanto os palestinos valorizam o conhecimento e o desenvolvimento de novas habilidades, apesar de todas as dificuldades, e como buscam se reconstruir depois de tanto ter sido perdido.

Com a Cúpula Mundial Humanitária, em Istambul, existem muitas lições que os líderes mundiais e os outros participantes podem extrair da história de Batoul. Nada é mais importante do que dar uma nova chance para a ação política destinada a resolver os conflitos armados. Nada vai fazer uma diferença maior para Batoul e para os refugiados da Palestina — além dos milhões de outros civis — do que soluções políticas que possam acabar com seu sofrimento.

A experiência de Batoul também ressalta a importância de se investir na humanidade. A cúpula enfatizou a importância de não deixarmos ninguém para trás mesmo que seja necessário muito trabalho duro para garantir que todas as crianças realmente tenham seu direito à educação, mesmo em contextos de conflito e crise.

Como profissionais que trabalham na ponta, nós estamos todos cientes do tamanho do desafio. A UNRWA fornece educação para mais de 500 mil meninas e meninos palestinos em 692 escolas em Gaza, na Cisjordânia, Jerusalém Oriental, Jordânia, Líbano e Síria. A história de Batoul é também a história dos professores, diretores e especialistas que atuam na linha de frente, provendo a educação que ela tanto dá valor.

Eu tenho o mais profundo respeito pela determinação e dedicação desses profissionais. Eles trabalham em um dos mais desafiadores ambientes imagináveis e nós, na Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), perdemos muitos colegas nos últimos anos: 16 desde o início do conflito na Síria, com 28 desaparecidos, e 11 em Gaza (durante o conflito de 2014).

Na Cúpula de Istambul, a UNRWA lançou um relatório cujas conclusões são profundamente perturbadoras. O nosso estudo “Escolas na Linha de Frente” revela que 44% das 692 escolas da UNRWA no Oriente Médio — o que representa 302 escolas — foram diretamente impactadas por conflito e violência nos últimos cinco anos.

Na Síria, ao menos 70% das 118 escolas da UNRWA foram, em algum estágio da guerra, inativadas, seja porque foram impactadas pela violência ou porque elas foram usadas como abrigos para as pessoas deslocadas.

O nosso relatório é igualmente desanimador quando fala do impacto do conflito nas escolas da UNRWA no território palestino ocupado. Oitenta e três prédios de escolas da UNRWA foram atingidos durante o conflito de 2014 em Gaza. Noventa escolas foram usadas como abrigos emergenciais para mais de 300 mil palestinos deslocados, incluindo ao menos 150 mil crianças. Seis dessas escolas foram atingidas por mísseis ou outras munições, causando mortes e ferimentos. Partes de armas foram colocadas por grupos armados em três outras escolas.

Na Cisjordânia, depois de aproximadamente meio século de ocupação israelense, o fornecimento de serviços de educação da UNRWA vem enfrentando um aumento de desafios em um contexto marcado pelas operações das Forças de Defesa Israelenses, como o uso frequente de gás lacrimogêneo, atrasos dos alunos por conta dos checkpoints (postos de controles) e fechamentos de escolas. A situação tem se agravado com o aumento da violência desde outubro do ano passado. Me junto ao secretário-geral da ONU em condenar os ataques a todos os civis.

Já no Líbano, surtos de violência forçaram 36 escolas da UNRWA a suspenderem as aulas por mais de uma semana, mais de uma vez e em diferentes ocasiões. Mais de 50% das nossas escolas no país já foram impactadas em algum momento.

Ainda assim, nada disto vai nos deter. Na Síria, ainda somos capazes de oferecer aulas diárias para mais de 45 mil alunos, dentre os quais muitos alcançam resultados acima da média nacional. Através do nosso inovador programa “educação em emergências”, damos aulas para mais de 50 mil crianças na Síria, Líbano e Jordânia através de transmissões e módulos de aprendizagem à distância da “TV UNRWA”.

Em Gaza, a maioria das nossas escolas para 250 mil crianças reabriram algumas semanas depois do término do conflito de 2014. E assim como na Jordânia, Líbano, Síria e Cisjordânia, contamos com psicólogos especialmente treinados para trabalhar com crianças traumatizadas para que superem seus traumas e sigam em frente com suas vidas.

Na cúpula, nós ressaltamos o principal investimento da UNRWA em dignidade, desenvolvimento humano e em uma medida de estabilidade para os refugiados da Palestina, que representam 40% das pessoas em situações prolongadas de refúgio no mundo.

Projetos de desenvolvimento e ajuda emergencial foram um grande tema na cúpula, e eles estão lado a lado às ações da UNRWA. Nossos professores se tornam coordenadores de abrigos durante as crises e depois voltam a ser professores. Combinar assistência, serviços sociais, cuidados de saúde e educação permite que a UNRWA olhe para a jovem Batoul não apenas como vítima de injustiça e violência, mas como uma protagonista do seu próprio destino, com uma contribuição para fazer na vida.

Na cúpula, nós nos juntamos às iniciativas para um “grande acordo” sobre o financiamento humanitário entre doadores e organizações humanitárias em um esforço coletivo para trabalharmos juntos de forma mais eficiente e efetiva e aprofundar a base de recursos para a ação humanitária, inclusive para os refugiados da Palestina. Ele ressaltou que os meios necessários precisam ser mobilizados para preservar e melhorar o nosso investimento em educação para centenas de milhares de crianças palestinas refugiadas. É o futuro e a humanidade delas que está em jogo, e, como o relatório do secretário-geral da ONU nos lembra, não há senão “Uma Humanidade”.

Batoul mostrou a coragem de agir. Devemos agir de forma igualmente decisiva para ajudar a ela e centenas de milhares de estudantes da UNRWA a realizarem os sonhos que eles estão trabalhando tão duro para manter vivos.

Fonte: ONUBR

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